Por Rafael Sigollo, de São Paulo, para o Valor Econômico.
Para enfrentar as turbulências e incertezas do mercado, empresas de diversos setores estão sendo obrigadas a cortar custos e repensar suas estratégias para 2009. Com as faculdades e universidades particulares não é diferente. De acordo com o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), Hermes Ferreira Figueiredo, existe até mesmo a tendência de redução no preço das mensalidades no ano que vem, graças à oferta maior do que a demanda e à acirrada concorrência no setor. Enxugar as despesas sem deixar a qualidade do ensino cair é o grande desafio das instituições de ensino, que além dos alunos, dependem de sua credibilidade no mercado para sobreviver. Suspender os planos de expansão e a criação de cursos é uma das medidas mais óbvias e imediatas, ainda que haja exceções (veja matéria ao lado).
Na opinião de Figueiredo, o desafio será cortar gastos sem afetar o ensino
Mesmo com a crise, os cursos de exatas, que já são os mais caros, continuarão tendo que atualizar seus equipamentos e laboratórios. Isso se refletirá com força nas mensalidades e poderá fazer com que vestibulandos e, até mesmo quem já estuda, migrar para outras graduações mais em conta. "Cortar o orçamento de cursos nas áreas como saúde e engenharias será muito difícil para os gestores", afirma Figueiredo.
Já no curso de administração, que continua sendo o mais procurado pelos vestibulandos, e em outros de humanas, as aulas poderão voltar a ser mais "professorais". Recursos eletrônicos e interativos que eventualmente são usados para motivar a classe e tornar o assunto abordado mais lúdico são alvo fácil na crise. "O conteúdo continuará sendo o mesmo, apenas apresentado de uma forma mais simples."
Para Figueiredo, a maioria das salas de aula hoje não é formada por estudantes que trabalham, mas por trabalhadores que freqüentam a faculdade. Assim, caso as empresas comecem a demitir em conseqüência da crise, a desistência de parte do alunos será inevitável.
Manter os alunos até a conclusão da graduação, aliás, é um problema que atinge praticamente da mesma forma as instituições de ensino particulares e públicas. Em ambos os casos, a média de evasão gira em torno dos 60%, com ou sem turbulências na economia. "Mesmo quem não precisa pagar mensalidade tem de arcar com materiais de estudo, transporte, alimentação entre outras despesas", ressalta.
Na opinião de Figueiredo, encontrar maneiras de financiar o ensino superior e oferecer oportunidade de educação para todas as classes sociais é um desafio que deveria ser enfrentado com mais afinco pelo governo. Segundo ele, setores como o automobilístico, o varejo, a construção civil e as linhas aéreas se tornaram viáveis para consumidores das classes C e D nos últimos anos. "Em todos esses casos, o suporte do governo foi fundamental. Por que não vemos esse mesmo empenho em relação ao ensino superior?", questiona.
Quem tem mais pressa de entrar no mercado acaba procurando os chamados cursos tecnológicos, que duram em média dois anos, a metade do tempo de uma graduação normal. Criado para atender demandas pontuais, sazonais ou até regionais, esse tipo de curso é considerado válido pelo Semesp sob a ótica da empregabilidade e da especialização da mão-de-obra. O presidente do sindicato ressalta, porém, que o aluno não deve encarar cursos de curta duração como substitutos ao bacharelado. "A graduação dá estrutura e base para que o indivíduo se desenvolva e tenha um leque de atuação maior no mercado".
As mudanças na economia e no mundo dos negócios estão aos poucos interferindo no conteúdo programático dos cursos, que estão se tornando cada vez mais multidisciplinares. Preparar o indivíduo para saber lidar com pessoas, trabalhar em equipe e se relacionar em um ambiente corporativo são temas que já começam a aparecer até mesmo em cursos de exatas, uma vez que as empresas ainda contratam por habilidades técnicas e demitem por questões comportamentais.
"No Brasil, infelizmente, ainda temos a mentalidade de formar empregados. Nos Estados Unidos, as faculdades formam empreendedores. Mesmo que o jovem seja funcionário de alguma companhia no futuro, ele precisa ter dentro de si esse espírito empreendedor, não importa se será médico, engenheiro ou administrador."
Leia mais aqui (para assinantes).
Você precisa fazer login para comentar.